9 de outubro de 2010

Dados na televisão

   É irritante a forma como o tédio me consome: Lenta e constantemente. Mais um café, mais uma água e nada acontece.
   Detesto esses dias em que as horas parecem não passar. Os dedos tamborilam na mesa; mais uma notícia inútil lida; a caneta, já cansada de ser virada e revirada, parece implorar pra que eu a deixe em paz. As horas não passam.
   Todos estão quietos. Até eles... Até aquele grupo tão falante agora emudeceu. Alguns foram embora, enquanto outros estão ocupados. Tento contato: Um, dois e-mails e nada. Ninguém parece se importar. Desisto e penso em escapar por alguns minutos pra encontrar meu único e verdadeiro amigo nessas horas, o vilão dos puritanos e defensores de bandeiras demagógicas a favor de uma vida saudável, como a dos comerciais da TV - o cigarro. Penso um pouco mais e desisto da ideia por questões éticas. Maldição! O tempo passa e, ainda assim, nada acontece.
   Detesto essa sensação de ócio e quase total impotência por não poder ir longe com as próprias pernas, apesar da noção de que ainda me encontro na base da escada pro paraíso.
   Enfim, o dia acaba e finalmente posso saudar meu amigo com certo gozo, até a hora de atirá-lo na primeira sarjeta. "Passou voando, não, companheiro?"
   Confesso que essa noção variável de tempo me deixa confuso e querendo mais um trago...

2 comentários:

Fabio Piva disse...

E no entanto, é no ócio que encontramos -- vez ou outra -- aquele sujeito de que muitas vezes esquecemos na correria do dia a dia. Sujeito companheiro, mas que nem sempre se faz bem vindo: Nosso "eu". E sua presença às vezes incômoda nos envolve em conversas profundas, sobre assuntos que nem sempre desejamos discutir ou refletir a respeito. Sujeitinho enxerido, esse "eu". Mas ao menos ele nos acompanha em cada trago daquele outro companheiro que você tão sabiamente lembrou aqui.

Fabio Piva
http://paciencianegativa.blogspot.com/

Sarah disse...

Escrever sempre é uma boa pra curar o tédio! Otimo texto!