23 de abril de 2010

Vale a pena ler de novo (parte 1)

Pra amenizar um pouco do clima obscuro daqui, decidi postar um texto bem light - um dos melhores que já escrevi até hoje, diga-se de passagem - do meu antigo blog, chamado 'Os dias (parte 4)'. Vale dizer que fiz algumas alterações no original, mas nada de demais. Enfim, sem mais delongas, espero que curtam também:

Era sexta-feira em um bar movimentado e fervilhando de gente jovem, num dos pontos mais boêmios do Rio: A lapa. Estavam em três, fora a companhia de uma dúzia de garrafas de cerveja e alguns pratos de petiscos. Já se passava um pouco da meia-noite e, em outra mesa, três amigas. Uma delas não tirava o olho de um dos amigos, o mais tímido e quieto dos três. O mais extrovertido virou-se pro tímido e disse:

- Ih, cara, olha só! Aquela ali tá te dando mole.

- Como assim?!

- Ali, cara! Dá uma olhada naquela mesa. Aquela com três garotas... Viu? Então! Aquela ali, ó! - aponta o extrovertido.

- Que nada, de repente olhou lá pra fora... - tenta desconversar o tímido.

- Não, rapaz! Ela tá olhando toda hora pra você. Eu tô sacando!

- Esquece isso, cara! Não quero arrumar problema por causa de mulher.

- Mas tu não é de nada, hein!

Duas da manhã e o bar estava praticamente vazio, mas os amigos ainda estavam lá; E as amigas também.

- Agora você não pode dizer que ela tá só admirando a paisagem, nem olhando pra outra pessoa, né? O bar tá vazio.

- É... Realmente.

- Não te falei?! Aí, aposto cinquentinha como tu não tem coragem de falar com ela. – tinham o costume de sempre fazer apostas quando saíam. O tímido ou corria ou perdia.

- Eu dobro! - aumentou o outro amigo.

- Cês tão brincando! - disse o tímido.

- Brincando nada! Vai lá, quero ver. E tem outra... Se tu conseguir algo mais, já não vai precisar gastar do teu. Aqui... Cem reais pra terminar qualquer noite em alto estilo.

- Ah, é?! – aumentou o tom o amigo tímido.

- Pois eu vou! Vou esperar só as outras amigas dela saírem de perto e eu chego junto.

- Eu dúvido. – falou o outro amigo.

- E eu mais ainda! – completou o extrovertido.

- É agora. – respondeu decididamente o tímido.

A garota, percebendo a timidez do rapaz, pediu às amigas que se afastassem. Elas levantaram-se e foram até o banheiro. Ele chegou pouco tempo depois.

- Oi.

- Oi. – respondeu a garota.

- É... Tudo bem?

- Tudo sim! E você?!

- Eu tô bem. – Totalmente sem jeito com a situação, responde o tímido.

- Senta. – pediu a garota

- E aí?!

- E aí o que?

- E aí... Você veio aqui pra...

- Ah! É que... Que... Eu percebi que você tava olhando pra mim

- Que bom que você reparou. Sinal de que não passo despercebida na multidão.

- É. – respondeu sem jeito o amigo. Afinal, ela não podia saber que foi o amigo dele que a notou.

- Mas e aí, só veio aqui pra dizer isso? Que me notou olhando pra você?

- Não, não... É... Você... Tem namorado?

- Terminei semana passada, ou melhor, ele terminou. É difícil a gente encontrar alguém realmente legal hoje em dia, sabe? Dois anos de namoro... Disse que cansou. Fazer o que? Até gosto dele, mas não vou ficar correndo atrás de homem, né?

- É. – O tímido não tinha onde enfiar a cara. Na verdade, sequer sabia como foi parar ali. O efeito dos chopes estava se dissipando; e sua timidez crônica, que o atormenta desde criança, não ia deixá-lo em paz agora.

- Você só fala “é”? Você é tímido?

- Não, não é isso. É que...

- Adoro caras tímidos, sabia?

- É?

- É sim! As mulheres gostam de caras assim, eu acho.

- Isso é bom. Sinal de que eu ainda tenho chance de casar e ter família, né? – o tímido comentou, rindo depois da própria frase.

- Tem sim. Ainda mais bonitinho desse jeito. – ela resolveu partir pro ataque.

- Bonitinho é um feio arrumadinho. – começou o tímido a se soltar.

- Tá bom: Gatinho, bonito... Um pitel, como minha avó dizia.

- Que nada... Você que é a parte bonita de nós dois. – ele começou a gostar do papo.

- Você é um fofo, sabia? – derreteu-se a garota.

As amigas iam voltando à mesa quando viram os dois conversando em um tom animado e decidiram sentar-se com o grupo dos amigos para assistir a cena de camarote.

- Mas então...

- Então o que?

- Vamos terminar a noite aqui, nesse bar, com nossos amigos de plateia?

- Não, claro que não. Pra onde quer ir?

- Não sei... Quer dizer, na verdade sei, mas você tem que fazer o convite.

- Pra casa, é isso?

- Hum... Deixa eu ver... Pra casa? É, pra casa, mas não necessariamente pra dormir, muito menos sozinha.

- Ah, entendi! Você não perde tempo né?

- Acho que não. Assustado comigo?

- Não, não é isso...

- Ah bom!

- E aí, tá pronta? – perguntou o tímido.

- Pra sua ou pra minha?

Passaram pela mesa onde estavam os amigos e as amigas, despediram-se de todos e partiram em direção ao apartamento dele.

Uma bela noite de amor depois, já pela manhã, ele acordou e percebeu que ela não estava mais ao seu lado. Embaixo do abajur um bilhete. Letra de mulher - pensou. Ela havia deixado um bilhete antes de sair, que dizia:

“Queria dizer que amei ter te conhecido. Desculpa ter saído assim, é que, por mais que não pareça, eu também sou muito tímida. Fiz uma aposta com as minhas amigas de que sairia com alguém ontem e acabei tendo a sorte de te encontrar. Vê se não esquece de mim e me liga, tá?”


Ele nunca mais fugiu de uma aposta.


N.D.R: Só pra constar, inscrevi esse texto no mini-concurso da comunidade 'Eu Tenho Um Blog' do orkut, organizado pelo Negão Internauta. Deem seu apoio e se inscrevam também! Mais informações vocês conferem aqui.

5 comentários:

Unknown disse...

sinceramente, adorei o post. Bem, bem legal. :D

Thamyzinha Iwasaki disse...

viajei na leituraa!!!

CAMILA de Araujo disse...

Guri acabou dando sorte hein uheuheheehuu

www.teoria-do-playmobil.blogspot.com

Silvana Persan disse...

se ela era tímida mesmo, deve ter tomado um balde de coragem pra pedir q ele ligasse no dia seguinte. e se a timidez dele tbm era grande, certamente, mesmo se sentiu vontade, não ligou.
:)

Chapolim disse...

Adorei...

Fantástico o texto. Depois dessa nunca mais fujo de uma aposta