Pra amenizar um pouco do clima obscuro daqui, decidi postar um texto bem light - um dos melhores que já escrevi até hoje, diga-se de passagem - do meu antigo blog, chamado 'Os dias (parte 4)'. Vale dizer que fiz algumas alterações no original, mas nada de demais. Enfim, sem mais delongas, espero que curtam também:
Era sexta-feira em um bar movimentado e fervilhando de gente jovem, num dos pontos mais boêmios do Rio: A lapa. Estavam em três, fora a companhia de uma dúzia de garrafas de cerveja e alguns pratos de petiscos. Já se passava um pouco da meia-noite e, em outra mesa, três amigas. Uma delas não tirava o olho de um dos amigos, o mais tímido e quieto dos três. O mais extrovertido virou-se pro tímido e disse:
- Ih, cara, olha só! Aquela ali tá te dando mole.
- Como assim?!
- Ali, cara! Dá uma olhada naquela mesa. Aquela com três garotas... Viu? Então! Aquela ali, ó! - aponta o extrovertido.
- Que nada, de repente olhou lá pra fora... - tenta desconversar o tímido.
- Não, rapaz! Ela tá olhando toda hora pra você. Eu tô sacando!
- Esquece isso, cara! Não quero arrumar problema por causa de mulher.
- Mas tu não é de nada, hein!
Duas da manhã e o bar estava praticamente vazio, mas os amigos ainda estavam lá; E as amigas também.
- Agora você não pode dizer que ela tá só admirando a paisagem, nem olhando pra outra pessoa, né? O bar tá vazio.
- É... Realmente.
- Não te falei?! Aí, aposto cinquentinha como tu não tem coragem de falar com ela. – tinham o costume de sempre fazer apostas quando saíam. O tímido ou corria ou perdia.
- Eu dobro! - aumentou o outro amigo.
- Cês tão brincando! - disse o tímido.
- Brincando nada! Vai lá, quero ver. E tem outra... Se tu conseguir algo mais, já não vai precisar gastar do teu. Aqui... Cem reais pra terminar qualquer noite em alto estilo.
- Ah, é?! – aumentou o tom o amigo tímido.
- Pois eu vou! Vou esperar só as outras amigas dela saírem de perto e eu chego junto.
- Eu dúvido. – falou o outro amigo.
- E eu mais ainda! – completou o extrovertido.
- É agora. – respondeu decididamente o tímido.
A garota, percebendo a timidez do rapaz, pediu às amigas que se afastassem. Elas levantaram-se e foram até o banheiro. Ele chegou pouco tempo depois.
- Oi.
- Oi. – respondeu a garota.
- É... Tudo bem?
- Tudo sim! E você?!
- Eu tô bem. – Totalmente sem jeito com a situação, responde o tímido.
- Senta. – pediu a garota
- E aí?!
- E aí o que?
- E aí... Você veio aqui pra...
- Ah! É que... Que... Eu percebi que você tava olhando pra mim
- Que bom que você reparou. Sinal de que não passo despercebida na multidão.
- É. – respondeu sem jeito o amigo. Afinal, ela não podia saber que foi o amigo dele que a notou.
- Mas e aí, só veio aqui pra dizer isso? Que me notou olhando pra você?
- Não, não... É... Você... Tem namorado?
- Terminei semana passada, ou melhor, ele terminou. É difícil a gente encontrar alguém realmente legal hoje em dia, sabe? Dois anos de namoro... Disse que cansou. Fazer o que? Até gosto dele, mas não vou ficar correndo atrás de homem, né?
- É. – O tímido não tinha onde enfiar a cara. Na verdade, sequer sabia como foi parar ali. O efeito dos chopes estava se dissipando; e sua timidez crônica, que o atormenta desde criança, não ia deixá-lo em paz agora.
- Você só fala “é”? Você é tímido?
- Não, não é isso. É que...
- Adoro caras tímidos, sabia?
- É?
- É sim! As mulheres gostam de caras assim, eu acho.
- Isso é bom. Sinal de que eu ainda tenho chance de casar e ter família, né? – o tímido comentou, rindo depois da própria frase.
- Tem sim. Ainda mais bonitinho desse jeito. – ela resolveu partir pro ataque.
- Bonitinho é um feio arrumadinho. – começou o tímido a se soltar.
- Tá bom: Gatinho, bonito... Um pitel, como minha avó dizia.
- Que nada... Você que é a parte bonita de nós dois. – ele começou a gostar do papo.
- Você é um fofo, sabia? – derreteu-se a garota.
As amigas iam voltando à mesa quando viram os dois conversando em um tom animado e decidiram sentar-se com o grupo dos amigos para assistir a cena de camarote.
- Mas então...
- Então o que?
- Vamos terminar a noite aqui, nesse bar, com nossos amigos de plateia?
- Não, claro que não. Pra onde quer ir?
- Não sei... Quer dizer, na verdade sei, mas você tem que fazer o convite.
- Pra casa, é isso?
- Hum... Deixa eu ver... Pra casa? É, pra casa, mas não necessariamente pra dormir, muito menos sozinha.
- Ah, entendi! Você não perde tempo né?
- Acho que não. Assustado comigo?
- Não, não é isso...
- Ah bom!
- E aí, tá pronta? – perguntou o tímido.
- Pra sua ou pra minha?
Passaram pela mesa onde estavam os amigos e as amigas, despediram-se de todos e partiram em direção ao apartamento dele.
Uma bela noite de amor depois, já pela manhã, ele acordou e percebeu que ela não estava mais ao seu lado. Embaixo do abajur um bilhete. Letra de mulher - pensou. Ela havia deixado um bilhete antes de sair, que dizia:
“Queria dizer que amei ter te conhecido. Desculpa ter saído assim, é que, por mais que não pareça, eu também sou muito tímida. Fiz uma aposta com as minhas amigas de que sairia com alguém ontem e acabei tendo a sorte de te encontrar. Vê se não esquece de mim e me liga, tá?”
Ele nunca mais fugiu de uma aposta.
N.D.R: Só pra constar, inscrevi esse texto no mini-concurso da comunidade 'Eu Tenho Um Blog' do orkut, organizado pelo Negão Internauta. Deem seu apoio e se inscrevam também! Mais informações vocês conferem aqui.
5 comentários:
sinceramente, adorei o post. Bem, bem legal. :D
viajei na leituraa!!!
Guri acabou dando sorte hein uheuheheehuu
www.teoria-do-playmobil.blogspot.com
se ela era tímida mesmo, deve ter tomado um balde de coragem pra pedir q ele ligasse no dia seguinte. e se a timidez dele tbm era grande, certamente, mesmo se sentiu vontade, não ligou.
:)
Adorei...
Fantástico o texto. Depois dessa nunca mais fujo de uma aposta
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