5 de janeiro de 2011

Cartas sem remetente (Parte 2)

  Do mesmo lugar de sempre, 09/05/2001


   O barulho ensurdecedor dos trens quando passam, do trânsito e da vizinhança não incomodam mais. Já me acostumei a decadente vida que levo, a esse buraco que chamo de lar com suas paredes emboloradas de "cor" acre e ao fato de ser um fracasso como ser humano, de maneira geral.
   Essa ausência de sensações e estímulos por vezes assusta, mas, na maior parte do tempo, convivo bem com ela e não reclamo. Ainda que aquela maldita repartição sugue um pouco de mim a cada dia, cansei de ser diferente; exótico. O sujeito conhecido pela ranzinzice e pela maneira explosiva de reagir. Sério, se o que afirmam ser o mundo vai de mal a pior, não foi por falta de aviso de gente que se preocupa - ou se preocupava como eu. Se algo tinha que ser mudado, bem, pelo menos pra mim, já não dá mais.
   É fato que o consumismo, a devassidão, a superficialidade, a violência e a exposição desmedidas, assim como toda a sorte de lixo - literal ou não - com que temos tido de viver durante tanto tempo já se encontram enraizados e tornaram-se retrato de uma sociedade imbecil e tão, ou mais, decadente do que a vida que decidi levar. Sinto que nos diferenciamos apenas no fato de eu ter feito uma escolha, enquanto o resto do planeta parece não ter alternativa senão continuar caminhando pro centro do vórtice criado por ele mesmo, ainda que agora tente lutar desesperadamente pra salvar o pouco que lhe resta.
   Não sei bem porquê, mas desenvolvi um gosto sádico pelo fracasso alheio. Mas... Qual o limite entre a dor e o prazer? Entre o medo e o desespero? Em qual dos dois lados você está? Em qual deles quer estar quando tudo realmente não tiver volta? Juro, não tenho uma arma e que me orgulho de viver nos limites do resto dessa sua ilusão mundana.

2 comentários:

Nil disse...

Eu sou um ser que vive à margem da sociedade, não como um mendigo mas sim com um pensamento incomum às massas.
Sou taxado, rotulado e empacotado como um ser exótico por ter o pensamento próprio sobre o que acontece à minha volta, sobre o que quero da vida e o que acho certo ou errado. Eu sei a diferença entre o bem e o mal e sigo um caminho mas em suma, o resto pode saber mas não se importa, contanto que sempre se dêem bem, não há problemas para ser um fdp as vezes.

Eu por outro lado prefiro ser eu mesmo.

Anônimo disse...

Continue pensando e tendo suas opiniões. A maioria vai com a massa e nem sabe argumentar os "porquês" de tais ou quais ideias que defendem.
Era isso.
Beijo arrobo
Edilene